Revendo os meus guardados, encontrei esta passagem da minha infância,
resolvi então passar para o papel e publicar.
Pode muito bem em alguns momentos a imaginação ter agido nas lembranças
e recordações encontradas.
Afinal estou muito distante deste época.
Para ler clique na imagem da capa do livro:
Pai suas histórias nos enchem de orgulho da sua trajetória!!!! Vamos publicar o discurso da minha Formatura ???
ResponderExcluirTerminei de ler hoje. Pelo celular mesmo. Keu computador está quebrado.
ResponderExcluirÉ uma bela obra, repleta de ponderações a respeito da própria vida. Mentores e professores da vida.
Texto do Amigo Regis Barbier:
ResponderExcluirPrezado Harry,
Li o teu livro “O Alforje que Carrego”. expressividade e compreensão, primorosas em qualquer lugar. Alguns termos e conceitos são surpreendentes, tais como: bloquear as memórias dos sentidos;
domínio intuitivo; pensamentos errantes; conversar consigo mesmo; falsos hábitos e diversos outros. A noção de “intuição”, ou “domínio intuitivo”,
apresentada como argumento central da inteligência sensível reporta a um
notório conceito filosófico – no caso kantiano. O uso da “caminhada
ritmada” como tarefa de paciência e treinamento foi exercício antigo dos
filósofos peripatéticos e ainda é disciplina tradicional dos praticantes do Zen budismo.
Apreciei também a noção de timidez, descreve muito bem o que ocorre no
sentimento e assemelha-se com o mecanismo do “recalque” da psicanálise. As
passagens onde se descrevem as interferências do passado transbordando nas
interpretações e vivencias do momento tanto quanto as modelagens e
adaptações das memórias servem para amenizar as carências atuais são
primorosos e exatos.
Essa narrativa de vivências firmes, evoluindo num cenário sertanejo
original, quase monástico na sua sobriedade, em busca de honrar plenamente
a natureza humana, possui uma grandeza e intensidade épica, heroica até. O
capítulo onde se narra a caça da onça é cativante. A frase – “O sistema
social formado pelos homens ao longo das suas existências, vem alterando a
estrutura intelectual, com condicionamentos gerando conflitos sem fins e, o
mais grave, deixando exposta à fome e à morte” – consegue compactar, em
poucas linhas, o essencial da tragédia humana.
O exercício cotidiano e continuo da arte da plena atenção em busca de
sustentar a natureza humana, verdadeiramente humana, insinua uma doutrina
fundamental, um norteamento metafisico, que corresponde a esses
conhecimentos, comportamentos e realizações. Fica claro, como água de
rocha, que o treino e a salvaguarda da inteligência sensível (assunto do
livro) deveriam andar de par com uma nova educação, uma correção das ideias
e ideologias ilusórias à nossa natureza; um realinhamento filosófico
implicando uma demarcação certeira, livre de hipóteses, da nossa identidade
e relação com o meio.
Logo, na narrativa de Harry, esses eventos revelam uma ética, um etho, que
se explicita igualmente nos discursos metafísicos dos filósofos
naturalistas – como os pré-socráticos, os estoicos, os epicurianos, os
spinozistas e muitos outros onde se reconhece o divino como radicalmente
integrado à natureza (e natureza humana) quando justamente examinada e
honrada. Uma doutrina filosófica humanista e existencialista, panteística,
emana logicamente da prática explicitada no livro, tanto quanto essa
prática evoca essa mesma doutrina.
“Lembro-me de uma passagem daquela época (...) quando meu avô disse que,
para ser um homem, eu tinha que conhecer a natureza da vida. Não se tratava
de sexo masculino ou feminino e sim de como encarar a vida segundo a
natureza”.
Não sendo, totalmente, uma sabia construção mnemônica do nosso autor, qual
seria a origem dessa “sabedoria sertaneja”? Certamente uma originação
espontânea, nativa, fruta da experiência e meditação própria, junto,
talvez, a um possível sincretismo agregando aportes indígenas e, quem sabe,
alguma forma de ecletismo manando de uma fonte erudita oralmente
transmitida.
À luz do meu entendimento, a frase de Cassiano, “a sobrevivência é uma
necessidade, o nascimento não”, faz surgir na memória uma outra frase de
construção análoga, que contrasta igualmente um ato da natureza que se
denega a uma ação.
Atenciosamente,
Régis Alain Barbier | barbier
(Ago 2018)